O Jogo do Lula - O recrutamento #1
O Recrutamento
Era um dia de sábado quando tudo começou, próximo da meia-noite do dia 10 para 11 de agosto de 2016. Saía da cobertura do jogo de futebol da seleção brasileira contra a Dinamarca, durante os jogos olímpicos, no estádio da Fonte Nova. Quase todos já haviam ido embora, as ruas estavam praticamente vazias, provavelmente as pessoas estavam comemorando aqueles 4x0 para o Brasil em algum local boêmio da cidade. Já eu, ainda que empregado, sobrevivendo com muito pouco devido a diversas dívidas a honrar, que não me permitiam me dar o luxo de ter um automóvel próprio, tinha como única alternativa que restava, correr em direção a Estação da Lapa, naquele deserto, na esperança de pegar o último metrô para posteriormente pegar uma outra condução para casa.
E então, foi assim que ele apareceu, de repente, aquele homem do qual nunca soube quem se tratava ou vi rosto novamente. Um homem alto, extremamente pálido, trajava um terno, gravata e chapéu pretos, que posteriormente resolvi denominar de O Recrutador. Esse misterioso homem inicialmente havia se aproximado perguntando as horas, em seguida quis saber se tinha muito tempo que eu estava à espera do metrô. Prontamente respondi que não, que só haviam dois minutos que tinha chegado ali.
Foi quando em ato contínuo, ele retirou do bolso dois grandes Tazos (Pogs) e me perguntou se gostaria de jogar para matar o tempo enquanto esperávamos o metrô, porém, apostando. Prontamente ri daquela situação bizarra e neguei, além do dinheiro do transporte separado, só tinha na carteira mais 50 reais para emergências. Além disso, ainda que gostasse muito de jogos e competição, nunca gostei de apostas, sempre tive tendência aos vícios, os quais consumiram muito de minha vida e até hoje pago as consequências. Então, por conta dessa possibilidade, sempre me mantive afastado.
Mas ele insistia, dizia que se eu aceitasse, seriam 2 dele para 1 meu. Eu não sei como, ou não sabia até então, mas aquele homem apareceu em um momento muito particular, nunca estive tão carecido de dinheiro, fiquei inclinado a aceitar algo que sempre recusei, e assim fiz, na loucura do momento apostei o pouco que tinha pela chance de receber em dobro o que poderia vir ajudar em boa hora em um momento de necessidade.
Ele pediu que escolhesse entre os tazos azul e vermelho, e assim como Neo, por precisar acordar daquele pesadelo que se encontrava a minha vida, escolhi o vermelho.
Então jogamos par ou ímpar para ver quem começava, ele ganhou. Jogou primeiro, e com expressão de surpresa estampada em seu rosto, não conseguiu virar a minha peça. Chegava minha vez e um flash de lembranças passava pela minha cabeça, lembrava como eu era bom naquela brincadeira na infância, me questionando se ainda sabia fazer aquilo, e como em uma memória muscular em que o tempo não havia apagado, meu corpo se movimentava quase que automaticamente para fazer a jogada, e eu com uma também expressão de surpresa, porém muito mais agradável, consegui virar o tazo azul dele.
Com a euforia por ter triplicado o dinheiro que tinha, poderia ter rejeitado o novo pedido de revanche por parte dele e saído no lucro enquanto aquele último metrô passava na estação, mas assim não fiz, não hesitei. Confiante de que seria um dinheiro fácil, que poderia pegar um táxi em seguida e não faria falta ao orçamento. Achando que seria moleza, brincadeira de criança.
Acabei por aceitar o pedido, e apostei novamente, novamente, e novamente. Consequência? Perdi três vezes consecutivas, estava zerado, e humilhado.
O Recrutador mais uma vez insistia que eu jogasse, mesmo não tendo mais o que apostar, tentando fazer minha cabeça a recuperar o dinheiro perdido, a ponto de oferecer a proposta que ele continuaria apostando o dinheiro com valor dobrado em troca se fosse permitido a ele bater no meu rosto caso perdesse. Mas ainda que a tentação fosse em, pelo menos, tentar recuperar o valor inicial que tinha, eu não podia aceitar, minha honra não permitia mais tal tamanha humilhação, então recolhi minhas coisas e fui em direção a saída da estação para tentar pegar algum coletivo que me deixasse próximo a algum ponto de ônibus.
Foi quando, já a alguns metros após ter dado as costas para aquele homem esquisito, que o mesmo gritou meu nome, e vindo em minha direção para falar algo, me ofereceu um estranho cartão com os símbolos geométricos quadrado, triângulo e bola, dizendo que, caso fosse do meu interesse, eu poderia participar de um projeto ligado à mesma temática, sem custo algum e podendo ser bem remunerado pelos serviços prestados, mas que teria que efetuar uma ligação para o número no verso até o dia seguinte.
Então, em tempo que eu ficava parado encarando aquele cartão, enquanto ele subia as escadas em direção a saída sem pressa, que tive um estalo e o questionei gritando de longe, como poderia ele saber meu nome, se em momento algum eu o disse. E foi então quando o mesmo me indagou se eu não era Luís Inácio, filho de Maria José e Antônio Nunes, e assim, imediatamente dando seguimento ao seu caminho, a sumir de vista enquanto eu atônito me questionava, não tão somente, ele saber do meu nome completo e o da minha mãe, mas também, o do meu pai, o qual nunca quis procurar saber.
Foi então que, em momento de desespero, subi aquelas escadas correndo e gritando e questionando quem era ele, como sabia quem eu era, e o que queria comigo, mas já era tarde, havia o perdido de vista.
Naquele dia, após todo aquele acontecimento, fiz meu caminho de volta para casa fora do planejado, e ainda assim, no automático, sem parar de olhar para aquele cartão tão singular.
Não consigo lembrar do percurso, e também não consegui dormir aquela noite. A única outra coisa que eu conseguia pensar era que, tudo aquilo que me ocorrera, não me era estranho, que já tinha visto história parecida em algum lugar, mas lembrava.
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