O Jogo do Lula - A investigação, o Incêndio e o Contato #2

                                              A Investigação, o Incêndio e o Contato

Não demorou muito, mas lembrei de onde vinha essa memória que tanto me perturbava, era fruto daquilo que tinha me levado a essa profissão, matérias investigativas de repórteres independentes locais, que ainda que tratadas como falsárias, lendas ou fantasias pelos profissionais da área, era um dos meus vícios. Passava horas lendo, me imaginando realizando tal trabalho. Ainda que não pudesse ter trilhado esse caminho, talvez essa tenha sido a hora, de fazer isso por mim mesmo.

Ao correr logo no primeiro horário atrás de mais informações em arquivos, não houve demora em encontra-las, sabia onde procurar, já era familiarizado. Washington Lins, autor da matéria sobre este qual ele se referia como “Jogos Mortais”, já havia falecido, vítima de acidente de carro não muito tempo após a publicação da mesma. A matéria descrevia com precisão de detalhes sobre aquilo que só me deixava mais assustado e instigado a saber mais.

Ele tinha como base relatos de uma fonte que tinha participado destes jogos e, passado por “recrutamento” semelhante à qual eu tinha passado. Após pesquisar mais um pouco, consegui saber de quem se tratava e onde localiza-la.

Sua fonte era, na época, uma jovem moça de nome Antonieta Cruz, a qual deveria naqueles dias já estar com certa idade. Ela havia conseguido participar e sair viva da competição, sendo este feito somente possível por haver uma regra bem específica que permitia e tornava possível isso, uma vez que todos os competidores votassem e essa fosse a vontade da maioria. Com toda certeza, isso só pôde ter acontecido por ainda restar um pingo de humanidade nos envolvidos ao não aceitarem fazer parte de todo aquele horror.

Determinado a conversar com essa senhora, não pensei duas vezes e recolhi o pouco de dinheiro que me restava e partir em direção a rodoviária, o destino era a cidade de Cachoeira, local onde ela morava até onde pude descobrir.

Perguntando a morador a morador nas ruas e batendo em portas e portas, quase sem sucesso algum, ninguém parecia lembrar dela. Já próximo ao final da tarde, finalmente encontro uma senhora que me traz a infeliz notícia que a senhora Antonieta havia falecido há muitos e muitos anos em um incêndio acidental na sua casa. Contudo, ao perguntá-la se eram próximas e se sabia de alguma história dela relacionada ao período que participou da competição, nada surpreso, ela me confirma tal relato, falando que Antonieta contava histórias sobre os jogos.

Na volta para casa, frustrado por não ter obtido mais informações, uma coisa era certa, toda a situação que me encontrava, mais real, era impossível. Com tal confirmação só me restava a decisão a ser tomada, o que fazer com tudo aquilo que agora sabia.

Chegando, ali em cima a mesa de centro, estava aquele cartão que não me deixava nem por um segundo esquecer sobre tudo aquilo. E também ali, em frente a ele, sentado e o encarando, mesmo após ter pensado tanto sobre, impulsivamente, ligo para aquele número no verso. Do outro lado da linha, uma voz adulterada, robótica, só me passa uma informação; “Em três dias retornaremos a ligação com definição de local e horário de encontro”. Após isso, trêmulo, não conseguia processar o que tinha acontecido e, por mais simples que possa parecer, nem sequer fui capaz de dizer um “alô”. Já tinha sido feito, não havia mais nada que eu pudesse fazer.

Ao longo do passar daqueles três dias, os sentimentos que mais me dominavam eram o de ansiedade e curiosidade, em um crescente desejo de saber mais. Obviamente passou pela minha cabeça simplesmente ignorar a ligação de retorno, ou as informações passadas por eles, mas eu me conhecia, e eu não faria. Arriscaria a sorte. E procurar ajuda da polícia nunca foi cogitado por mim, eles não dariam credibilidade.

Ao chegar ao vazio pé da Ladeira da Montanha às repletas 01:00 da madrugada, como estabelecido, sem esperar muito tempo, uma van para do meu lado e ao chamar meu nome, me manda entrar. Não consigo me lembrar de mais nada após isso, até acordar em um quarto completamente branco.